Pensações

Pensações

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Entremeio

Da vida, temos o que merecemos. Ter - redigo -, é garantir para si, não no sentido mercadológico como empregamos atualmente. Garantir para si é para sempre, é sem tempo, é imortal.
Fiquei pensando na resposta que um mestre de uma concepção de vida (que algumas pessoas chamam de seita ou religião ou ópio ou...) deu a uma pergunta um tanto insossa de um de seus seguidores numa sessão mística.
- Mestre, quando sabemos que estamos no caminho certo?
Diante da curva da exclamação, o mestre respondeu sem grandes problemas: - certo é o seu caminho, nele você está certo. Errado é quando estamos no caminho do outro.
Então, após ouvir essa história, meus botões quiseram se reunir novamente. E vamos lá!
Quaquer atitude sua, que parta das suas convicções está certa. Caso depois você ou alguém descubra que o que você fez deu errado ou foi um erro cometido, estará mais certo ainda, pois o balanço foi positivo, você aprendeu alguma coisa.
Nenhuma divindade, nenhum rei ou papa estarão prontos para responder à questões que dizem respeito à você. A dúvida sendo sua, o caminho sendo seu, argumentos serão bem vindos, conselhos serão amigos, pitacos serão considerados, mas o que você fizer é o que deveria ter sido feito. Depois, alguma mão pesada quiser lhe contaminar de falsa moral ou coisa parecida, voê terá uma resposta na ponta da língua: o importamte nesta vida, mesmo, é experimentar. Essa é a palavra, essa é a filosofia, temos que EXPERIMENTAR. Só assim e não obstante poderemos, um dia, sermos um pouco melhores, acertar um pouco mais.
Abaixo o erro! Ninguém nunca errou, todo mundo experimentou!
Não quero, aqui, fazer uma apologia à libertinagem. Quando cometemos injustiças, desonestidades, sacrilégios, falta de amor, bem sabemos. Não há dúvidas. Para esses erros não gasto nenhuma linha deste texto.
Porque aqui só falo dos ciclos, da semeadura e da colheita, do pequeno espaço entre o nascimento e a morte, do inverno e do verão e de alguns pequenos detalhes que os entremeia.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Fantástica carta ao Zeca Camargo

Oi, Zeca,
Neste texto que fala de heróis e suas sagas, encontrei terreno certo para falar de uma tristeza que me tomou desde semana passada, no exato dia em que você e meu queridíssimo Rubem Alves participaram de um 'Café Literário' na Bienal do Livro de Minas Gerais. Não cabia dentro de mim desde o dia em que vi a programação na qual dois dos meus poucos e grandes heróis da atualidade iriam falar sobre a possibildiade de viver o hoje sem pensar no amanhã (tema do bate-papo). O anúncio no jornal de maior audiência da capital mineira deixava claro que era aberto ao público.
No dia do evento, acordei bem cedo, lavei os cabelo e tirei a melhor roupa do armário. Máquina fotográfica na bolsa, gravador, papel e caneta para que nada fosse perdido.
No meu coração, que estava, naquele dia, do tamanho do mundo, só cabia esperança. Esperança de estar mais perto de pessoas com as quais eu dormi diversas noites, seja no livro que amanhecia emaranhado nos lençóis, seja na noite triste do domingo quando termina nossa revista semanal.
Pessoas que, acredito eu, pensam e transformam o mundo que nós vivemos hoje. Pessoas heróis. Heróis pessoas.
Pedi à minha chefe para sair uma hora mais cedo, pois tinha que pegar duas conduções até chegar ao local da exposição. De manhã, logo que cheguei ao trabalho, liguei para o telefone de informações da Bienal e me disseram que eu poderia chegar uns vinte minutos mais cedo (antes de começar o evento no qual você e Rubem iriam bater um papo com a platéia, 19h) que já seriam suficientes para eu estar cara a cara com vocês.
Prevenida, cheguei com uma hora de antecedência. O local do 'Café Literário' já estava lotado. Cheio de pessoas bem vestidas com crachás de patrocinadores. Um pouco antes da sete, veio o segurança nos avisar na fila imensa que se formava: "podem desfazer a fila, já não há mais espaço lá dentro!".
Fiquei muito, mas muito chateada ao ouvir aquilo. O resto, não preciso relatar a você. Pôde ver com seus próprios olhos e ouvir com os seus ouvidos atentos. As pessoas que formavam aquela fila, provavelmente, estavam ali depois de um dia cheio de trabalho, cansadas e talvez até sujas, mas tão esperançosas quanto eu. E eram, afinal de contas, num país que a grande maioria lê menos de um livro por ano, pessoas instruídas e sedentas por conhecer, ver, sentir e ouvir seus grandes heróis.
Houve um tumulto, alguns gritos de justiça (pois o local onde aconteceu a Bienal tem um auditório imenso), outros de "abaixo a ditadura!", alguém gritou lá no fundo "Rubem Alves, cadê você, eu vim aqui só pra te ver!"e eu me contentei a ficar ao lado da dona Judite, uma senhora de mais de setenta anos, com um livro que ganhara do filho nas mãos, esperando por um autógrafo, ou apenas um olhar. Uma senhora que conheci lá, que ficou tão paralisada - ao saber que não poderia transpor a fronteira fina de um vidro e ouvir os seus heróis - quanto eu.
A organização do evento se desorganizou. Não sabiam o que fazer. As pessoas lá fora não paravam de gritar e os convidados lá de dentro não poderiam ser desapontados, a conta era deles. Com um tanto de atraso e uma grande insatisfação, recebemos a notícia de que seriam feitas duas sessões. A primeira para quem já estava dentro do café e a segunda para o pessoal que gritava do lado de fora.
Eu, apaixonada pelo Rubem Alves e por você, não pude esperar a segunda sessão no auditório. A segunda condução que pegaria para chegar em casa só passava no centro da cidade, local que, àquela hora, já era muito perigoso. Quem estava lá dentro, certamente não se preocupava com o horário, estavam todos de carro.
Então, vim embora. Tirei uma foto da lua que estava cheia e linda lá no estacionamento. Vi você e o Rubem pelo vidro, só um pouquinho, só para ver...
Não pude te perguntar o que ensaiei, nem a ele. Meus heróis ficaram no vidro do lado de dentro. Eu sei que vou encontrá-los nos livros que ainda não li, nos que vou ler, ou, talvez, até mesmo em alguma bienal por aí.
Mas a dona Judite, com mais de setenta anos, que estava lá a esperar desde as 16h30 com seu livrinho na mão, talvez não...
Aquilo, para mim, foi o retrato de que, realmente, só a nossa elite tem acesso real à cultura. O retrato 3x4 do carão que os organizadores de uma Bienal do Livro, um local de democratização da cultura, passaram e nos fizeram passar.

*Comentário postado no blog do Zeca em seu post intitulado: 'Os heróis da (minha) juventude'

terça-feira, 20 de maio de 2008

Mulheres, vamos dar um tempo?

Às vezes, eu tenho vergonha de ser mulher. Claro, existem mulheres e mulheres. Mas não há indagação, dividimos e qualificamos tudo, também, e quase sempre, entre homens e mulheres, machos e fêmeas, feminino e masculino, XX ou XY.
Fazendo parte da grande metade que pinta as unhas e usa batom, às vezes ou muitas vezes, envergonho-me.
Caso alguém converse com dez mulheres com alguma intimidade, dez delas vão falar que estão desvalorizadas, que os homens não são mais os mesmos, que o último canalha a "comeu" e nem ligou no outro dia, que nenhum homem quer um relacionamento sério e por aí vai a lista de frustações e descontentamentos.
Pois quer saber? Eu acho é bem feito!
A mulherada tá carente demais, estão vivendo, sentimentalmente, na época de nossas avós, querendo um homem pra prover, defender, cuidar, e com um pouco mais de esperteza, você descobre que elas querem um homem, também, para arriar o cavalo e colocar (nelas, não nos cavalos) cabrestos.
Estou ouvindo de muitos amigos comprometidos que as mulheres são muito chatas e que não aguentam mais. E o pior que eu não posso nem defender minha ala porque eu sei que é verdade. Nós transformamos uma mínima atitude que não nos agradou em um pesadelo. Nós telefonamos demais, queremos saber de tudo, fuçamos celular, desconfiamos de qualquer número desconhecido, desconfiamos da colega de trabalho (porque pra mulher, TODAS as outras estão dando em cima de seu homem), ficamos emburradas quando eles chegam do futebol e desalmadas quando eles querem ficar assim, um pouco quietos, um pouco sem conversar, colocando os pensamentos no lugar. Nessa hora viramos tagarelas infames a perguntar: - o quê que você tem? - eu fiz alguma coisa? - por que está calado? - o que está pensando (Deus! essa é a pior!)? Aí, achamos que eles estão pensando em outra, que não nos amam mais, que vão nos abandonar, que a gente é ruim de cama e que nossa comida caiu de qualidade, que estamos gordas e nosso cabelo está horrível.
Ao invés de nos metermos com nossa vida, gastarmos nossa energia com as nossas coisas e dar amor quando tem que se dar, na hora certa, da forma certa, não, viramos umas chatas!
Mulheres, deixem seus homens respirarem. Deixem o futebol de lado, a cerveja com os amigos é apenas a cerveja com os amigos, não é nenhuma conspiração contra nós. O silêncio, para eles, é essencial, é uma forma de organizar a vida (porque nós falamos, falamos e falamos...), olhar o decote da vizinha é um vício, uma atitude tomada quase que sem pensar (e depois eles nem se lembram), passar a tarde "encerando" o carro e nos deixar sozinhas vendo aquela comédia romântica na sala não é sacanagem, é necessidade deles (o carro não reclama da vida, dos filhos, do peito que caiu, da barriga que não diminui...).
Mulheres são seres que conseguem mudar as coisas sem que ninguém perceba seu rastro. Vamos usar essa capacidade para sermos mais legais com nossos namorados/maridos, vamos perguntar menos, vamos sorrir mais, vamos tomar cerveja com eles e falar também (e por que não) de futebol, carros e guitarras. Vamos fingir que não vimos a toalha molhada na cama e se eles dormirem no meio de um caso que estávamos contando, pegue um livro (nem que seja de auto-ajuda, vá ler e esqueça disso).
Assim, quem sabe, construiremos relações melhores, com mais amor e menos rancor. Quem sabe assim, ele, naquela tarde de domingo, largue o carro sem lavar e venha assitir a comédia romântica conosco.
E eu nunca mais tenha que ouvir: - nossa! como minha mulher é chata!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Basílio não podia dispor de si

"A Princesa Imperial Regente, em Nome de Sua Majestade, o Imperador, o senhor dom Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e Ela sancionou a Lei seguinte:
Art. 1º - É declarada extinta desde a data desta Lei a escravidão no Brasil.
Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário."

Com essas, e não mais que essas, poucas palavras, o Brasil declarou livre todas as pessoas da raça negra há 120 anos atrás. Uma data histórica e um dos mais importantes atos humanitários realizados em nosso país em suas poucas centenas de anos.

É, principalmente, pelo espectro da escravidão que consigo perceber que a humanidade tende a evoluir em seus valores e em suas relações. Hoje seria inconcebível qualquer tipo de escravidão, qualquer forma de trabalho que explorasse e rebaixasse um ser à categoria de coisa.

Mas, mesmo passado tanto tempo, ainda temos a obrigação de quebrar cabeças-duras, açoitar viseiras e espanar qualquer vestígio de retrocidade de pensamento que ronda por aí sob outras formas que não as correntes e os troncos. Por isso, vou deixar, aqui, registrados alguns dados que daqui há 120 anos poderão fazer as próximas gerações julgar-nos desumanos assim como fazemos com os senhores de engenho de outrora. (Não vou colocar números para não deixar a leitura cansativa e com cara de matéria de prova de história, mas os dados foram tirados de pesquisas e matérias de órgãos reconhecidos).

1) - Em um estudo realizado recentemente e que chega às mãos de nosso presidente, hoje, através do primeiro ato oficial que comemora, no Brasil, o Dia da Consciência Negra, foi constatado que existe maior concentração de negros nas regiões portuárias do país. Quer dizer: os negros estão mais concentrados, ainda, mesmo depois de 420 anos que o primeiro deles desembarcou em nosso portos, nos locais em que desciam dos navios negreiros, as regiões portuárias. Essa informação deixa clara que os vestígios da escravatura ainda são marcas profundas e regem, em muitos aspectos, a lógica da sociedade que formamos no dia de hoje;

2) - Os negros morrem mais de violência que os brancos. Esse fato tem inúmeras interpretações. Mas, dentro da regra, percebemos que as causas estão diretamente relacionadas às suas precárias condições de trabalho (construção civil, trabalho informal, trabalho insalúbre, entre outras);

3) - Os homens negros ocupam apenas três por cento dos postos de chefia e gerência das empresas brasileiras. Mulheres negras em cargos mais altos são raramente encontradas;

4) - Entre os negros a porcentagem de mortes por causas mal definidas é muito maior do que entre as pessoas de cor branca. Isso indica que os negros são mais mal atendidos em hospitais e postos de saúde. Seria como se os médicos se importassem menos com a doença dos negros que com a doença dos brancos, pois quando os primeiros morrem, a causa pode não ser sequer identificada. Existem muito mais negros em comparação com os brancos que constam em seus atestados morte por causa não sabida;

5) - As mulheres negras morrem mais nos partos. Novamente uma informação que comprova que essas pessoas têm atendimento mais precário nas redes de saúde;

6) - Existem muito menos negros no ensino superior, o que causa, inclusive, a polêmica sobre as cotas para negros nas universidades (papo para outra hora) e o que garante que, no futuro, eles continuarão a não ocupar cargos de chefia e a serem mais pobres que seus irmãos de pele clara.

Li inúmeros outros dados sobre o desfavorecimento dos negros em nossa sociedade. Todos eles têm explicações que, numa visão mais restrita, podem-se resumir à pobreza. Mas, penso que esses bastam para percebermos o quanto ainda existem resquícios da escravidão em nosso país.

Nessa pesquisa, encontrei a história do Basílio. No tumulto da liberação para que os negros pudessem obter suas cartas de alforria, alguns deles fugiam da senzala e iam trabalhar nas ferrovias "disfarçados" de homens livres. Quando a guarda abordou o negro Basílio e o solicitou a apresentação de sua carta de liberdade, Basílio acabou sendo preso, pois não possuía o direito de trabalhar em outro local se não o que seu dono permitisse. Ele era um negro forte e corajoso, havia fugido das terras de seu senhor sem a alforria e sem qualquer permissão. Nos altos que relataram a prisão de Basílio, constava: "Basílio de tal foi encontrado trabalhando nas obras de construção da Ferrovia tal sem sua Carta de Alforria. Ele foi preso porque não pode dispor de si para o trabalho."

segunda-feira, 12 de maio de 2008

"Amar é muito pouco para o mundo que se tem lá fora"

Foi numa noite de bebedeira que sobramos eu e minha amiga, de madrugada, em casa, e ainda com uma caipirinha na mão (o que nos rendeu um grande problema no dia seguinte...). De todos os casos que contamos, de todos os autores que citamos, de todas as perguntas que fizemos uma à outra, o que mais me intrigou foi uma frase da Martha Medeiros (escritora que eu ainda não conhecia até aquele dia): "Amar é muito pouco para o mundo que se tem lá fora". Assim, no meio de uma história, apenas como um pequeno comentário, minha amiga soltou essa frase que, simplesmente, me embasbacou.
Eu sempre pensei como eu iria dar conta de ser uma ótima profissional, ganhar bem, malhar, depilar e fazer unha, estudar, ter um marido e ser uma boa esposa, principalmente na cama, e ainda ter filhos (tirando que quero viajar e conhecer o mundo). Essa questão é um bichinho que fica me pinicando quase que diariamente. Todas as vezes que chego em casa exausta do trabalho e ainda tenho que ir à academia para manter a saúde e a forma já vem o bichinho me alfinetar. Então, penso: e se eu tivesse um marido agora? e se eu tivesse filhos para dar carinho, atenção e ainda ajudar no dever de casa neste momento? como iria fazer?
Numa meia volta pego minha toalha e vou malhar,que, por enquanto, é minha única preocupação depois do trabalho. Mas mesmo espantando o bichinho, ele dorme e acorda comigo quase que todas as noites.
O que a Martha Medeiros quis dizer com sua frase é que ter um relacionamento fixo, se dedicar a ele, cuidar dele é fechar as portas para milhares de outras coisas e pessoas que nos esperam no mundo, por que você não acha que seu namorado vai achar ótimo você experimentar visitar o CINE SEX - CABINES INDIVIDUAIS*, acha? Você não acha que seu marido vai achar bom você fazer uma viagem de mochileira pela europa sem, às vezes, ter como ligar ou mandar notícias, acha? Você não acha que seu companheiro vai encarar positivamente o fato de você querer experimentar uma droga diferente ou uma raça diferente, acha?
Então, não há o que fazer. Eu sempre pensei assim. Namorar e casar é fechar a porta da frente para tantas sensações, tantas descobertas, tanto mundo, tanta gente..."É você saber como vai ser seu final de semana" (outra frase filosófica da minha amiga na quarta caipirinha), tudo programado, tudo certo, nenhuma emoção, nada que fuja à regra. Ou você acha que seu namorado vai achar uma delícia você dizer a ele que quer ir numa boate gay sozinha no sábado, só para ver como é, para conhecer as pessoas que lá frequentam e como elas exergam a vida e buscam a felicidade (porque se ele for junto, provavelmente ele se importará se você bater um papo de meia hora com um homossexual qualquer, porque aí vêm as frases: "você me deixou sozinho, você não me respeita, o quê que você tanto conversava com aquele gay...eu acho que ele deu em cima de você...e por aí vai...).
Alguém pode se perguntar: por que que essa menina tanto quer conhecer e experimentar as coisas? por que que ela não sossega o facho e vai ver o último lançamento da indústria cinematográfica? por que que ela não digita no google as dúvidas que ela tem?
É, eu também me pergunto. Mas eu não quero ver a Ilha de Páscoa pelas fotos, eu quero sentir o cheiro daquele lugar, quero me arrepiar com a energia de lá. Eu não quero ler a entrevista de um negro que sofreu preconceito ou um frequentador do CINE SEX - CABINES INDIVIDUAIS*, ou um soro-positivo, eu tenho as minhas perguntas para fazer, eu quero olhar no olho, ver do meu jeito, além do que alguém pode me contar.
Como vou fazer tudo que quero fazer tendo que dar satisfações, tendo que cuidar do milindre alheio, tendo que ensinar dever de escola, tendo que ter uma noite arrasadora de sexo (se não, meu marido vai olhar o decote da secretária - isso ele já vai fazer mesmo, mas pelo menos pode ser que não dê em cima dela)?
Realmente, "amar é pouco demais para o mundo que se tem lá fora".
Mas...e a experiência de ter um filho? e as noites frias?

*Ver: 'Cine sex e o tempo que eu não tenho'

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Um presente para minha mãe

Estou pensando em qual presente poderia dar à minha mãe. Como estou longe, imagino ela na minha CI - Central de Imaginação (acho que a maior parte do meu cérebro!) e penso: o que ela gostaria de ganhar? seria algo material, como um perfume ou um vaso de flores? seria a minha presença num almoço descontraído em sua grande cozinha branca? seria um show do Roberto Carlos? seria uma jóia? seria eu dizer a ela que eu sou feliz?
Eu não sei. Nunca deixei de passar um Dia das Mães com ela. Esse será o primeiro. Talvez por isso a questão do presente me veio tão forte. Talvez ele me substituísse de alguma forma, ocuparia o meu lugar na constelação das Três Marias (eu e minhas duas irmãs Pâmela e Paloma).
Não sei como as meninas farão. Acho que será estranho. Eu, aqui, sem poder abraçar a minha mãe, elas, lá, sem mim, sem nossas risadas e piadas que só a gente entende, sem a Paloma reclamar para a mãe que está precisando de uma massagem, sem a Pâmela perguntar pra ela quem é a mais bonita e qual das três ela ama mais(e deixar minha mãe na pior situação do mundo!) - eu já deveria ter perguntado para a Pâmela porque ela faz isso toda vez que nos reunimos. A pobre da minha mãe até gagueja - e sem eu para traçar planos infalíveis com ela como o nosso Cruzeiro pelos oceanos (todos!) assim que ela ganhar na loteria...
Enquanto os dias vão dando suas voltas, eu vou pensando em um presente bem original, um presente pra fazer ela não sentir minha falta.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Encanto com o que não era pra encantar

Todos nós que cursamos a faculdade, tivemos aula de filosofia, sociologia e antropologia (e não estávamos de ressaca nessas aulas), sabemos que a mídia vende produtos e pessoas, influencia a todos, coloca nos bares e esquinas os assuntos que ela quer que lá estejam, formata a personalidade das criancinhas, faz a gente dançar na boquinha da garrafa, incentiva-nos a comprar o que não precisamos e achar o que não achamos.
Eu escreveria um livro desdobrando esse assunto, mas acho que todos já entenderam o que quero dizer com as frases acima.
Eu sei disso tudo. Uma das principais funções (se não a principal) dos veículos de comunicação é persuadir. Não podemos negar que eles têm sua função na sociedade e além de nos fazer um tanto de mau (colocando na nossa cabeça que precisamos de silicone, um carro potente, um amor sem defeitos), nos fazem, também, um tanto de bem (nos informa, alerta, inspira, denuncia etc).
Onde quero chegar com isso tudo? É que sei das dicotomias dos jornais, tv's, revistas, web, rádio e todos os outros. Mas nesse momento estou encantada e uma pessoa encantada tem todos os direitos do mundo, inclusive o de ser jornalista e chorar com um comercial de tv.
O dia das mães está se aproximando. Há publicidades por toda parte. Em cada outdoor, em cada spot de rádio, em cada loja percebemos como nossa publicidade tem ficado cada vez mais sensível. Como nossos publicitários estão virando artistas de verdade, sem tirar nem pôr.
-Um menininho dá a sua mãe uma caixa de lenços. O irmão, logo em seguida, dá um perfume que agrada muito à mãe. O mais velho (que deu o perfume) se sente orgulhoso de ter dado o presente que a mãe mais gostou. Só que ela gostou tanto que ela chora...então o irmão mais novo estende um lenço, que foi o presente que ele quis dar e não era tão glamouroso quanto o perfume, para que a mãe seque as lágrimas.
Eu fiquei sem palavras ao ver esse comercial. E sempre que o vejo, tenho vontade de chorar. É muita delicadeza, muita sutileza...
Outro que posso citar é um comercial da empresa de telefonia Claro. Neste vídeo as pessoas vão se comunicando numa rede sem fim de possibilidades. Falando ao celular e mandando uma foto, passando um vídeo de telefone para telefone, conversando a distâncias enormes e vendo umas às outras, mostrando que não há mais motivos para se perder qualquer momento que seja. Tirando a música que, quando se escuta, dá vonta de sair dançando junto à banda de criancinhas que "tocam" com muita empolgação instrumentos de brinquedo.
Gente! Esses comerciais foram feitos para vender, para comprarmos um perfume sendo que já temos três, para adquirirmos um celular sendo que o último que temos tem apenas dois meses, para fazer girar a roda do capitalismo. Mas não podemos negar. É arte! É arte que emociona, que mexe com os sentidos, que faz chorar e dar gargalhadas. É arte que arrepia, que nos faz pensar, que nos mobiliza.
Acredito que estejam nascendo novas formas de arte porque o mundo já não é mais o mesmo de Picasso, de Bethoven, de Chaplin, de Shakespeare e nem mesmo de Tom e Vinícius. O mundo já não é mais o mesmo de Cazuza!
Refletindo sobre isso, proponho que comecemos a nos preparar para o novo e mais ainda, praticar o bom senso na hora de consumir, porque nossos publicitários estão merecendo um Nobel.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Cine Sex e o tempo que eu não tenho

De todas as coisas que eu imaginei ver em BH, das que eu nem imaginei e já vi e das que eu imaginei mas não acredito que existam, a mais inusitada me ocorreu neste dia que se passa.
Perto da rodoviária, ali, bem no centro, uma portinha anunciava: CINE SEX- CABINES INDIVIDUAIS.
Ao ver o comércio, todo meu estresse pelo engarrafamento, todo meu mau humor pela noite pouco dormida e até a minha saudade de casa me deram um descanso. Como assim?
Tipo, "estou passando pelo centro, três horas da tarde de uma quarta-feira, me deu uma vontade de assistir um filme pornô, relaxar e outras cositas mais, entro numa cabine individual (ainda bem que individual) e me deixo levar pelas imagens, sons e sensações de um belo filme erótico"...
Particularmente, eu achei estranho, mas achei o máximo! Não que eu tenha coragem de frequentar uma dessas (quero um dia ir lá perguntar o preço, como funciona, quem são as pessoas que frequentam, ver o lugar...loucuras), até porque tenho privacidade em minha casa, mas pelo fato curioso que me ocorreu de tudo que pode existir no mundo e eu nunca me darei conta, nunca vou saber e nem sequer imaginar.
Se eu não tivesse passado por aquela rua que me parece mau cheirosa, se eu não estivesse olhando para fora da janela do ônibus, se o trânsito não estivesse engarrafado, eu iria morrer sem saber que existe um lugar desses. Mas, e os outros? Quantos mais lugares, coisas e objetos existem no mundo e eu não vou conhecer?
Minha curiosidade é do tamanho desse mundo que eu habito e minhas perguntas são tão numerosas quanto essas coisas todas que têm por aí.
Intriga-me é que mesmo que eu viva 110 anos e não durma nem uma noite sequer e não fique nem um minuto parada, não vai dar tempo. Mesmo com a internet, o msn, o you tube, a tv digital, os satélites, mesmo com os aviões, os jatos de guerra, os submarinos e os trens bala, mesmo que eu queira...não vai dar tempo.
Mas........o tempo que der, vou usar para descobrir coisas novas e formas novas que as pessoas usam para serem felizes.
O tempo que der, o tempo que eu tenho, que eu não sei nem quanto é...vou usar para descobrir o que der tempo de descobrir.
Isso deve se chamar 'contentamento'. Será que estou aprendendo a me contentar?